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Com o emprego da tomografia computadorizada os cientistas têm conseguido imagens extraordinárias de corpos embalsamados e vêm revelando detalhes de como viviam e de como morreram essas pessoas. O trabalho consiste em obter no tomógrafo imagens de cortes transversais ou "fatias" do corpo e introduzi-las num computador que as combina, formando uma figura tri-dimensional. O processo permite explorar o interior das múmias sem danificá-las em absoluto. Em um desses estudos foi feita uma incursão na caixa toráxica de uma múmia que se acredita seja a de Ramsés I (c. 1307 a 1306 a.C.), o primeiro faraó da XIX dinastia, ou de seu filho Seti I (c. 1306 a 1290 a.C.). As imagens mostraram os órgãos abdominais firmemente enrolados em linho, de acordo com o costume de embalsamento da época. Outra imagem mostrou uma orelha severamente deformada, talvez como resultado de um trabalho cirúrgico mal feito, e o crânio cheio da resina usada no processo da mumificação, como se pode ver na foto acima. Na mesma ocasião foram estudadas mais oito múmias. Uma delas, que inicialmente se pensava ser um bebê, mostrou ser na realidade uma criança cujas pernas haviam sido amputadas abaixo dos joelhos. Outra criança tinha uma fratura de crâneo, que teve ter sido a causa de sua morte.
Em novembro de 2001, arqueólogos do Museu do Louvre desenterraram em Saqqara cerca de 20 grandes jarros confeccionados com fragmentos de terracota misturados com natrão, como esse que vemos ao lado. Tais recipientes, datados da XXV dinastia (c. 770 a 712 a.C.), caracterizados por duas alças verticais, muitos deles selados com tampas de terra, continham dejetos de embalsamamento, ou seja, foram enchidos pelos sacerdotes embalsamadores com os restos da mumificação. Entre os dejetos se incluíam bolsas de natrão, palha, linho, bandagens, polpa de papiro, fétidos humores do ser humano, tais como líquidos deteriorados, e outros materiais misturados em pequenas tijelas, canecas e garrafas que continham diferentes ungüentos e óleos. A maior parte dos dejetos eram sobras de materiais indispensáveis para os longos e diferentes processos de mumificação e dão um novo testemunho da atividade e da prática dos sacerdotes que preparavam os corpos dos mortos. Foi feito nesses dejetos um estudo em busca de ovos de parasitas intestinais, que acabaram sendo de fato achados nos fragmentos de roupas e de faixas de pano contidas nos vasos. O que se encontrou foram ovos de parasitas que infectam especificamente o ser humano através do consumo de carne bovina ou de porco mal preparada, sendo que a primeira era consumida com mais frequência pelos egípcios do que a segunda. Esses vermes localizam-se no intestino do anfitrião que eles parasitam. Seus ovos são protegidos por uma concha composta principalmente de quitina, o que lhes dá uma resistência muito duradoura. A presença deles nos jarros confirma seu uso como vasilhas de dejetos durante a mumificação. Os pesquisadores afirmam que os vermes achachos nesse estudo foram registrados nos antigos textos médicos egípcios. O papiro Ebers menciona o nome de duas lombrigas, pened e hefnat, mas é impossível saber exatamente a qual espécies de vermes essas palavras se referem. Por outro lado, mesmo que os egípcios não conhecessem os mecanismos de infecção parasitológica, eles estavam familiarizados com os remédios anti-vermes. É improvável que o sacerdote contaminasse o jarro com sua própria infecção. É mais provável que os ovos no jarro tenham vindo de um ou mais indivíduos que dispunham de serviço de saúde pública precário e higiene alimentar pobre. Isso é viável porque os dejetos são oriundos de uma época na qual a mumificação não estava limitada a uma elite, mas acessível a toda a população egípcia.
Entre os mistérios que envolvem a múmia de Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.) existe o do sumiço do seu pênis. O fotógrafo Harry Burton registrou o pênis real intato durante a escavação de Howard Carter da tumba daquele faraó em 1922. Mas em 1968 o órgão sexual foi dado como perdido quando o cientista Ronald Harrison tirou uma série de radiografias da múmia. Houve especulações de que o pênis teria sido roubado e vendido. Existem pessoas que colecionam esse tipo de coisa. Entretanto, ele sempre esteve entre os restos mortais, apenas encolheu com a mumificação. Tomografias computadorizadas do corpo feitas em 2004 mostraram que ele estava escondido pela areia que protege o corpo. À primeira vista as fotos de Burton parecem indicar que Tutankhamon seria, digamos, "bem dotado". Mas de acordo com os peritos que examinaram o pênis mumificado, o faraó tinha, digamos também, "atributos normais". Não foi possível determinar se o rei foi circuncidado, embora alguns documentos antigos mencionem que tal aconteceu, provavelmente por razões higiênicas, embora não esteja descartado algum procedimento ritual. Ankhesenamom, a esposa do faraó, que com ele se casou com apenas 13 anos de idade e provavelmente era sua meia irmã, deu à luz duas meninas natimortas.
No início da década de 1850, na cidade de Gardiner, situada no Estado do Maine, nos Estados Unidos, eram usadas bandagens de múmias para fabricação de papel. Um químico aventureiro chamado Isaiah Deck foi quem sugeriu essa solução bizarra para suprir a falta de trapos que eram usados, naquela época, como ingrediente fundamental para fazer papel. Ele tinha visto, em tumbas egípcias, pilhas enormes de múmias embrulhadas em quilômetros de algodão e linho da melhor qualidade. Em 1854, calculou que deveria haver 420 milhões de múmias, cada uma envolta em cerca de 100 metros de pano, e que a quantidade de pano que os Estados Unidos necessitaria para fazer papel poderia ser suprida durante 14 anos usando-se tais bandagens. Por estranho que possa parecer, as fábricas assim o fizeram, entre 1860 e 1900, não apenas naquele Estado, onde quatro ou cinco empresas do ramo usaram essa técnica, mas também no Estado de Nova Iorque, onde havia duas fábricas, e no Estado de Connecticut, onde havia mais duas. Os pesquisadores acreditam que várias outras podem ter existido por todo os Estados Unidos. As bandagens eram misturadas com muitos outros materiais para a fabricação do papel e, portanto, não há um modo seguro de testar o papel velho para ver se foi feito ou não com bandagens. Por causa das ervas e óleos usados na mumificação, os tecidos produziram um papel escuro que pode ter sido usado como papel de jornal ou papel de embrulho. A fabricação de papel com bandagens foi considerado sempre como lenda urbana, mas uma empresa de Connecticut, chamada Chelsea Manufacturing Company, deixou o fato documentado. Em um de seus impressos, dadato de 1859, ela se refere ao papel e diz textualmente: O material do qual é feito foi trazido do Egito. Foi recolhido das tumbas antigas onde havia sido usado para embalsamar múmias.
Não está claro se os corpos das múmias também foram levados para os Estados Unidos, ou se foram deixados para trás depois dos panos serem removidos. Talvez os corpos tenham sido cremados ou enterrados.
No século XII d.C. prescrevia-se pó de múmia para feridas e contusões. Mas era importante distinguir entre os vários tipos de múmias existentes e os médicos egípcios dividiam os espécimes em quatro tipos:
- Múmias egípcias preservadas em betume.
- Múmias egípcias artificiais, ou seja, feitas de betume e ervas, mas não contendo qualquer corpo.
- Múmias árabes, isto é, preservadas em óleos e temperos, mas não contendo betume.
- Corpos enterrados e secados na areia.
O último tipo era o menos útil para os médicos. Tais corpos eram pulverizados e usados para aliviar dores de estômago. Os demais tipos, entretanto, tornaram-se um grande negócio. Milhares de múmias egípcias preservadas em betume foram moidas e vendidas como medicamento. No século XVI d.C., entretanto,
a demanda pelo "medicamento" aumentou a tal ponto que logo estavam sendo produzidas múmias falsas.
A provisão de múmias diminuiu e foram substituídas por corpos de criminosos executados e de pacientes mortos em hospitais. Os comerciantes foram ainda mais longe: passaram a enterrar os mortos recentes na areia para secá-los, ou os enchiam de betume e punham para secar ao sol. Em 1564 d.C. um médico visitou o depósito de múmias do principal comerciante do produto em Alexandria e descobriu que elas eram preparadas com os corpos de escravos e outros que haviam morrido das doenças mais repugnantes. Mas havia quem advertisse que era preciso ter cuidado. Em 1691, o farmacêutico francês Pierre Pomet, que publicou livros sobre a história dos medicamentos e das drogas em geral, deu alguns conselhos para se obter múmia em pó de alta qualidade. Os bons materiais, segundo ele, eram de um preto lustroso, não contendo ossos ou sujeira, com cheiro bom e que ao ser queimado não fedesse a piche. Ele também alertava contra as "múmias brancas" as quais, informava, eram produzidas em alguns locais da África matando-se e enterrando-se infelizes viajantes na areia de deserto. Até o século XVIII d.C. se continuou acreditanto que múmias pulverizadas continham qualidades medicinais especiais que podiam fechar feridas e curar epilepsias e vertigens. As pesadas taxas que foram impostas sobre a comercialização do produto acabaram liquidando com esse negócio.
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